Enem 2011 gera polêmica
A busca pela imparcialidade na divulgação das notas da edição 2011 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2011 não para de gerar polêmicas. O que para o Ministério da Educação (MEC) é um procedimento coerente com os princípios da Teoria da Resposta ao Item (TRI), para os educadores representa uma sobreposição dos princípios científicos da avaliação sobre os valores humanistas pertinentes ao Ministério da Educação (MEC).
Ao apresentar as médias de cada escola, no último dia 22, Luiz Cláudio Costa, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), informou que a mudança na metodologia buscou apresentar dados mais justos: somente as notas das provas objetivas, corrigidas por meio da Teoria de Resposta ao Item (TRI), foram consideradas nos cálculos da média. Segundo o órgão, a nota da redação não foi considerada por ter outro método de correção.
Além disso, o critério para inclusão de escolas na listagem do MEC também considerou novos itens, como número mínimo de dez concluintes por escola e participação de, pelo menos, 50% dos estudantes no exame. Desse modo, a relação oficial continha 10.076 estabelecimentos, o equivalente a 40,56% do universo brasileiro do ensino médio. Um total de 13.581 escolas ficaram de fora por não terem tido 50% de taxa de participação. E outras 1.185 instituições de ensino não entraram na listagem por apresentarem menos de dez concluintes. No ano passado, todas as escolas tinham a nota divulgada, com o respectivo porcentual de participação.
Estas novas regras empurraram (ou ajudaram a empurrar) para baixo as instituições de ensino do estado do Rio de Janeiro no ranking do Enem 2011. O Colégio de São Bento, que ocupava o 1º lugar no Brasil, caiu para 10ª posição no ranking nacional. O 1º colocado do país foi o Colégio Objetivo, de São Paulo, com média de 737,15. Mesmo com média 702,16 o Colégio de São Bento manteve a liderança no Rio de Janeiro. O segundo colocado no estado, Colégio São João Batista, em Nova Friburgo, que conseguiu média 686,1, ficou na 18ª posição nacional.
Consultora em Mídia Educação, Regina de Assis, que é doutora em educação, vê com desconfiança o ranking do Enem 2011. Com a experiência de quem já foi secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro e integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE), a educadora explica que a qualidade de uma instituição de ensino não cai bruscamente e sim de forma gradativa.
“As escolas não se deterioram de uma hora para outra. Uma escola não fica em primeiro lugar em um ano e, no ano seguinte, cai para a décima posição. Mesmo com problemas na qualidade do ensino, essa situação seria detectada de forma gradual nas avaliações, com o desempenho caindo ano a ano. Processos como este geralmente levam de três a cinco anos para se desenrolarem. Por isso, esse ranking gera uma desconfiança generalizada sobre a sua eficácia”, explicou Regina de Assis, que lecionou na Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e também no Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Outro ponto condenado por Regina de Assis é a retirada da nota da redação no cálculo das médias divulgadas das escolas. Para a consultora de Mídia e Educação, a redação é um importante instrumento para estimular os alunos a ler, a concatenar as ideias. Portanto, a retirada de suas notas, em sua avaliação, revela uma intenção do MEC de padronizar o ensino por meio do Enem.
“Esses critérios geram dúvidas com relação aos fatos de as escolas melhor posicionadas prepararem seus alunos de maneira específica para responder o Enem. Conheço a Teoria de Resposta ao Item, elaborada por Sérgio Costa Ribeiro, no Rio de Janeiro. Isso é uma falácia. Projetos científicos podem avaliar dados qualitativos. Equacionar o resultado somente com dados objetivos é um erro crasso em educação. Não se trabalha em educação apenas com dados objetivos. Os dados subjetivos são muito importantes”, argumenta a ex-presidente da Empresa de Multimeios do Rio de Janeiro, a MultiRio.
Para Regina de Assis, que acompanhou a criação do Enem, idealizado pelo ministro Paulo Renato de Souza, quando integrava o Conselho Nacional de Educação (CNE), o projeto inicial foi desvirtuado. O objetivo do Enem, que era traçar um diagnóstico do ensino médio apontando caminhos para a melhoria da qualidade da educação, na análise da docente, se perdeu completamente.
“O Enem, do jeito que está, não ajuda em nada o sistema de ensino do país. Vai acabar se transformando em um novo campeonato brasileiro de pontos corridos, cujo vencedor é aquele que acumula o maior número de pontos. Esse tipo de avaliação atende a exigências externas. Quem faz o exame deve conhecer a realidade brasileira e não aplicar o que o Banco Mundial ou a OCDE determinam”, concluiu a consultora em Mídia e Educação.
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